Ela conta que, ainda na infância, desejou a Medicina, mas seguiu por outro caminho, com convicção. Mestre em Química Orgânica e doutora em Ciência e Tecnologia de Polímeros, dirige desde março de 2019 o Instituto de Macromoléculas, o IMA. São mais de 40 anos dentro da UFRJ, e sua trajetória profissional reverbera pelo Brasil e em outros países.
Especialista em polímeros, Tavares começou sua trajetória já fazendo a diferença na pesquisa: no mestrado, desenvolveu uma parafina clorada a partir dos rejeitos da sal-gema. Essa parafina clorada é utilizada como plastificante para o PVC, um polímero rígido, duro e quebradiço. Tavares explica que o PVC, como conhecemos, é composto e no mínimo 10% dele são aditivos. Por ser um polímero clorado, não pegaria fogo, isoladamente, mas como os aditivos são oxigenados, isso acontece. Por isso, há a necessidade de um segundo aditivo, um anti-chamas. Neste caso, as parafinas cloradas da pesquisadora.
Tavares sempre estudou em escolas públicas, e por isso destaca o apoio fundamental do pai para jamais deixar de estudar. Sob olhar dele, que nunca interferiu na escolha profissional, desde que houvesse uma, ela passou na universidade pública e construiu sua trajetória no mesmo espaço. Foi na UFRJ que descobriu que tinha vocação para o magistério: “Eu sou muito feliz que consegui estudar, consegui aprender e consegui passar meu conhecimento e é uma satisfação enorme quando consigo ver alunos fazendo coisas melhores ainda do que eu já fiz”.
A perseverança, característica comum a quem não nasceu em berço de ouro, a levou, já no doutorado, a cursar um período na Inglaterra. A ida e a permanência, bem como os conhecimentos adquiridos no período, são creditados à professora Elisabeth Cardoso, vice-diretora do IMA à época. “Ela sempre acreditou em mim e me deu a chance de crescer”, relembra Tavares.
Pelas mãos de Cardoso que o doutorado-sanduíche foi possível e enriqueceu a trajetória profissional de Tavares. Sem deixar de mencionar o apoio irrestrito do marido, que tirou uma licença maior para ficar o máximo de tempo com a esposa e os filhos no país europeu: “Todo mundo cresceu como ser humano, com cultura, e eu ainda trouxe o conhecimento na parte da ressonância magnética”.
A volta do doutorado foi em 1990. De lá para cá, Tavares une os conhecimentos em polímeros, ressonância magnética em polímeros e nanotecnologias para desenvolver seus alunos, formar novos profissionais e avançar o campo onde atua. Uma das contribuições mais memoráveis foi um projeto de desenvolvimento de novos materiais que permitiu a criação de um forno com diferentes temperaturas, para pescadores terem uma opção de renda na época de piracema (período de reprodução dos peixes, que a pesca é proibida) e, assim, preservar a fauna marinha.
Um dos alunos dessa pesquisa, Emerson Oliveira da Silva, nunca mais saiu da sua órbita profissional. “Fez mestrado, passou para o doutorado direto, passou como professor, se tornou meu chefe e hoje ele é meu vice-diretor. É uma alegria grande ter formado não só ele, mas vários excelentes alunos”, orgulha-se.
Atualmente Tavares também trabalha com doenças negligenciadas e uniu seus conhecimentos em polímeros e ressonância magnética, junto com seus alunos farmacêuticos, para desenvolver comprimidos com liberação controlada do fármaco. “Não vamos trazer a cura, que muitas não têm, mas poderemos dar um conforto para aquela pessoa ter uma vida social melhor. Muitas pessoas não tratam a diabetes porque têm muitas restrições, outras têm depressão, outras ficam mal-humoradas, porque a vida social fica abalada”, analisa, sempre visando o bem-estar de quem será alcançado pelas suas pesquisas e estudos.
Ela é mais que uma professora que orienta, e sabe disso. Inclusive fora dos laboratórios, ensina pelo exemplo. Tavares também doa seu cabelo periodicamente a hospitais de câncer Algumas das alunas do IMA fazem o mesmo.